sábado, 10 de outubro de 2015

O TERCEIRO SEGREDO DE STEVE BERRY

Isso não é uma resenha. Dito isto, quero escrever minhas impressões sobre O terceiro segredo, livro de Steve Berry publicado pela Record no Brasil em 2005. O terceiro livro de Steve Berry traz as polêmicas que envolvem as aparições de Maria, mãe de Jesus, em suas aparições pelo mundo na medida em que mostra as intrincadas relações de poder que envolvem a comunidade clerical do Vaticano, particularmente àquelas ligadas a seu líder religioso.



A trama parte de uma hipótese, polêmica, de que o terceiro segredo não foi completamente revelado. Utilizando como cenário o fictício papado de Clemente XV, sucessor de João Paulo II, alguns documentos confidenciais são consultados noite a pós noite pelo o Santo Papa. O que Jacob Volkner tanto examina na exclusivíssima Biblioteca do Vaticano?

Certos documentos dessa Biblioteca só podem ser acessados pelos Papas. Entre eles, o terceiro segredo de Fátima revelado a menina Lúcia em 1917 e só revelado à público através de um escrito traduzido do português para o italiano em revelado ao público em 2000 por João Paulo II. Muito se especula sobre a mensagem real que a Virgem teria dito a Lúcia naquele outubro de 1917. E Berry se sustenta nessa deixa para nos entreter com uma história instigante e bem escrita como um bom thriller policial, em meio ao suicídio de um Papa, um Conclave e um desfecho emocionante em torno dos envolvidos. Uma história que a mídia e o povo nunca vai saber, nem mesmo seus príncipes escarlates terão a mínima ideia.


Um amor proibido entre uma jornalista e um padre católico, secretário do Papa, assim como um Celebrity Priest e um Cardeal que faz tudo, inclusive matar, pelo poder de comandar esta igreja empresta uma dinâmica que te faz não querer largar o livro. Como uma novela, envolve o leitor em várias histórias fazendo nos fazendo pensar nas relações entre religião e política na escala do poder mundial.

Ao longo do livro vamos retirando a batina desses padres e vendo-os como os homens que são. Homens que desejam fama, poder, sexo, amor, família e atender ao que acreditam ser o chamado de Deus para eles na Terra. Colin quer o direito de amar sem  restrições à mulher que escolheu sem ter que optar por seu trabalho como clérigo ou essa felicidade terrena, algo que o próprio Jakob desejou e não pôde ter, arrastando consigo um amor puro por toda a vida da mulher que o amava. 

O padre Kealy buscava a fama ao mesmo tempo em que questionava o que deveria ser para ele inquestionável enquanto o Cardeal Valendrea queria trazer o apogeu católico da idade média para o mundo atual como forma de parar o avanço do mundo moderno sob o trabalho de Deus. Incluir um padre que mais parecia um agente Iluminatti como secretário deste foi um toque macabro em um ambiente já tão carregado protagonizado por este Cardeal. Então, temos um padre correto, vigoroso que ajuda criancinhas e quer seguir os planos de Deus, planos que atrapalham os homens. E então são muitas mortes, suspense, corridas pela Europa e muita, muita ação.

O terceiro segredo nunca será revelado por completo, nem tanto pelo segredo em si, mas por demonstrar o quanto os céus estão descontentes com os rumos que o povo daqui de baixo anda dando à sua própria obra. Mas Berry o revela para nós, seus leitores, e que linda mensagem de diversidade e tolerância ele criou para nós! Independente de ser a verdadeira mensagem dos céus, serve para que os religiosos do mundo inteiro possam pensar que uma atualização do pensamento religioso precisa alcançar mais pessoas e, desse modo, melhorar o mundo para todos.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A VIDA DE ADELE OU "AZUL É A COR MAIS QUENTE"

La vie d'adele que assumiu no Brasil o título do mercado norte-americano Blue is the warmest color e do quadrinho que deu origem ao roteiro (Azul é a cor mais quente) é um produção francesa de 2013 que se destaca pelas cenas intensas. Todas elas: de choros, de sexo, de risos, de comida, de dança. Tudo é absolutamente intenso. a trilha sonora é massa, a fotografia é belíssima e a sonoplastia de uma poeticidade que me fez esquecer que, afinal, era só um filme. Ouvir a respiração Adèle Exarchopoulos, a belíssima atriz que dá vida á personagem Adele, é um convite à nossa própria sensualidade.



É isso: o filme é sensual. Nem entendi por que essa opção americana por mudar tão radicalmente um título já tão bom. Afinal, o filme é isso mesmo: a vida dessa menina se tornando mulher enquanto descobre a sexualidade, o amor e a relação cotidiana. O filme conta a história de Adéle e Emma e sua constituição como casal. Quando Emma encontra Adéle, ela é uma menina de 15 anos fazendo escola secundária como uma menina parisiense de sua época.


Tive dificuldade de escrever sobre este filme por que ele tem muito bons diálogos e momentos para se refletir. O filme é contextualizado trazendo as passeatas dos jovens por empregos e melhores condições par aos imigrantes em close-ups que nos deixam perceber a meninice de Adéle em meio às suas emoções afloradas pela incerteza do futuro no interior de uma família pequeno burguesa. Suas interações com o sexo oposto e a indefinição quanto a gostos sexuais vão sendo apresentadas ao público como prévia das tórridas cenas protagonizadas com Emma pela total apatia diante de tudo. Mas acima de tudo, traz essa mulher tão cotidiana e tão nós apenas tentando viver sua vida emocional e material como e possível. Um modo de vida absolutamente contemporâneo.

O olhar de Adéle é curioso e, apesar, de um modo simples e prático de encarar a vida essa é uma característica da personagem nas 3 horas que dura a produção. É uma vida que se conta e não pode ser nem exibida, nem assistida de forma aligeirada. As cenas são bem intensas e a direção de Abdellatif Keniche não deixa nada nas entrelinhas; tudo é dito, tudo é feito, tudo é visto, tudo é ouvido.

Após seu encontro com “a moça de cabelo azul Emma” (Lea Seydoux), estudante de Belas Artes, o relacionamento delas evolui, assim como as aspirações de cada uma. A opção de ser professora de Adéle parece incomodar as pessoas do círculo de amigos de Adéle e essa diferença é dada pelo diretor a opor duas cenas de dois jantares envolvendo as famílias de ambas. Fica claro para o espectador que a formação e as expectativas de uma e de outra vêm especificamente da família que as gerou.

Claro que tais diferenças iriam cedo ou tarde iam influenciar os caminhos dessa relação. Adéle nem se interessa por entender o universo de Emma! Vemos Adéle participando do universo de Emma, mas o inverso não acontece. E talvez por uma decisão da própria Adéle que não assume publicamente sua relação homoafetiva em todo o tempo da narrativa.

Adéle parece desconfortável o tempo todo, ainda que seu texto seja d euma moça centrada, antenada com o que vai ao acorrente, sem preconceitos e focada, seu desconforto tá num certo olhar e num timidez exacerbada, particularmente em meio aqueles artistas e intelectuais que são o mundo de sua companheira. A câmera capta bem essa personalidade confusa. O olhar triste é sua marca.

Tudo é feito com muita vontade. Eles comem mesmo, dançam mesmo, riem mesmo, choram mesmo e transam mesmo! Mas é tão cotidiano que temos que nos lembrar que é ficção. O visual despojado dos atores contribui para isso. Gosto do cabelo sempre despenteado de Adéle e mais ainda quando evolui para algo mais comportado, como o de uma “mulher séria”. O visual de Emma também evolui e sai do azul contestador para o loiro trivial. Tudo se assenta na vida cotidiana e como esse passar do tempo nos faz mergulhar num cero modo de ser e de viver.

E aí acontece. A solidão ou sentimento de pertença faz Adéle sair com um colega professor. Mais uma vez as cenas sensuais nos permitem um comparativo e mesmo que nós e Adéle saiba que a escolha dela já estava feita desde os 15 anos, Emma não perdoa a traição, a põe para fora de casa e termina a relação.

As próximas cenas são um convite a cuidar bem do seu amor por que a vida de Adéle passa a ser apenas mecânica do trabalho. Uma cena emblemática é o choro convulsivo no último dia das aulas: nem esse bálsamo para suas horas de solidão ela teria.


Há, então, um reencontro. Algo que o Diretor nos dá para ficarmos para além da vida de Adéle. Emma conseguiu expor na galeria que ela queria, do modo como queria e está com outro alguém. Não há final feliz aqui. Nem sei se há final, afinal. O que há é apenas La vie d’adele e de todos nós.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A ERA DA JUVENTUDE [THE AGE OF ADALINE]

A história: Adaline Bowman (Blake Lively) sofre um acidente de carro quando tem 26 anos. Esse acidente, por uma combinação físico-química e biológica interessante causa um crash no "sistema de envelhecimento" e ela nunca mais envelhecerá. 



Melhor que Highlander que precisava lutar contra seus iguais o tempo todo, melhor que Drácula (e seus continuadores) que precisavam de sangue (Eca!) para continuar forte e belo, nossa personagem só precisa se esconder de modo discreto do seu Governo para não virar um experimento. Vidinha boa, hein? Bom, aí você vai ter que ver o filme e descobrir por que, com todas essas vantagens, tudo o que Adaline queria era envelhecer. E se não quiser saber mais antes de ver, então sugiro que pare por aqui.



O filme em si eu classificaria de "boinho". Precisei assistir duas vezes para entender que ele não tinha nenhum UAU por que não era a proposta. Numa linha mais para Benjamim Botton do que para Crepúsculo, a linha aposta em uma possibilidade científica admíssivel. Afinal, qualquer um pode sofrer um acidente de carro, cair num rio gelado, morrer de hipotermia em 30 segundos, ter o coração desfibrilado por um raio de sei lá quantos mil amperes e desacerelar em nível de DNA nosso envelhecimento natural. E então a ação acaba e o que vemos é uma mulher tentando viver como se nada tivesse acontecido. Mas isso é impossível por que sua juventude começa a "dar na vista"


Não apenas a vizinhança começa a desconfiar dos milagres produzidos pela industria cosmética, como o próprio governo paranoico dos EUA. Então, é fugir ou virar experimento científico. Quando sua filha começa a parecer mais velha que ela mesma ela sabe que é hora de ir. E vai.



Suas tentativas de levar uma vida mais que normal a leva para Paris onde conhece um jovem que se apaixona pela beldade a ponto de lhe pedir em casamento. Mas ela foge de novo.



E então, outra percepção da personagem é que estaria fadada a solidão. Sua tentativa tão humana de presença é aliviada por gerações de cachorrinhos que ela vai perdendo ao longo de 60 anos dessa incrível história. A manutenção da raça é uma tentativa de buscar essa presença tão difícil para seu estado. A ideia de envelhecimento juntos aqui ganha uma dimensão muito maior que a trazida por Homero no A odisseia por que nos conduz a pensar no nosso entorno: nós envelhecemos, mas nossos amigos, filhos, pets também junto conosco. Isso nos dá essa presença, esse sentimento de pertença, de normalidade e equilíbrio necessários à jornada. É evolutivo; é natural.




O que aconteceu com Adaline foi um fenômeno natural que a desnaturalizou, mas e os procedimentos cirúrgicos? E os photoshops? Eu fiquei admirada ao ver Tom Cruise no Missão Impossível 5. Parecia que ele estava vivendo a incrível história de Adaline!


Mas ninguém é feliz sozinho de Adaline se apaixona novamente. E mais uma vez o rapaz quer um relacionamento sério. Ela atrai para si o charmosíssimo Elis (Michiel Huisman), filantropo que a conhece numa de suas visitas na biblioteca em que ela trabalha na cidade de San Francisco. O reencontro acontece na noite de ano novo e é o início de uma nova jornada para Adaline. Uma viagem de volta a Paris e ao jovem William (Harrison Ford), agora casado há 40 anos com Kathy (Kathy Baker) e pai de dois filhos: a tempestiva Kiki (Amanda Crew) e... o seu mais recente namorado Elis.


O destino avisa que é hora de parar de fugir e outro acidente põe fim a essa incrível história. De novo um narrador nos informa os acontecimentos no corpo de Adaline na medida em que seu organismo, em um tranco, reinicia seu curso natural. E outro fenômeno natural desta vez a naturaliza.


As cenas finais quando Adaline descobre o que o narrador já havia nos contado são especiais na recorrente temática "eterna juventude". O fio branco pairando em suas mãos perfeitas lhe indicando que voltara a seu curso normal nos dá uma dimensão da desimportância da paranoia em torno do corpo perfeito, dos tratamentos anti-rugas, anti-natureza. Nossa natureza é envelhecer. Se a alma não for junto, então é como disse Adaline esta tudo "perfeito"!