sábado, 22 de agosto de 2015

ISTO É OS 40? [sobre o filme 'Bem-vindo aos 40"]

Então. Você está naqueles momentos que em que fica com a caneca de café rolando nas mãos com preguiça de começar o dia e o notebook está ali á mão. E é quando você pensa "Que tal um bobinho para esquentar os neurônios?” 

E foi assim que meu dia começou com “This is 40”, um filme dirigido por Judd Apatow, lançado em 2012 pela Universal com Paul Rudd e Leslie Mann protagonizando o casal Pete e Debbie. Uma participação mais que especial de Melissa MacCarthy é a cereja de um filme despretensioso e deliciosamente divertido no papel da histérica Catherine, mãe do namoradinho da filha mais velha de Debbie. Por que o título me chamou a atenção é bem óbvio: eu tenho 40. Apesar disso não vivo em negação como a personagem do filme ou insegura com os problemas que esta nova fase pode trazer. Tá. Só um pouquinho.

Eu lembro quando fiz 40, e num piscar, lá estava eu, chegando aos 90.

Qual seria a solução? Não pisque.





A história gira em torno da entrada nos 40 anos de Debbie e Pete que fazem aniversário na mesma semana. Fica claro desde a primeira cena os problemas enfrentados por Debbie com essa nova identidade etária e da diferença que isso opera em Pete que parece não se importar; ele não faz nenhuma referência ao fato de está fazendo 40 anos, nem positiva nem negativa. Então, a história gira mesmo em torno dos 40 anos de Debbie. A pergunta de fundo é mesmo “O que é esses “enta”? O que significa entrar nos 40?
Devo dizer que não há como não se reconhecer (NOS reconhecer!) em algumas situações tanto particulares, como de casala, de pais ou de amigos.



E aí eles vão viajar. E tudo fica bem.

“Por que brigamos? Quando brigarmos vamos lembrar desse momento?”

Eles não vão lembrar. Nós não nos lembramos.
Então, eles voltam. E eles estão em sintonias diferentes.

“Somos como sócios num negócio”

E as crianças, nossos filhos nos ensinam quando nos espelham. E nosso retrato é tão ou mais que o de Dorian Gray. Onde fomos parar? Em algum lugar entre os 20 e os 40 nos perdemos. E lá vamos pegar carona com Proust em busca do tempo perdido.


A maternidade nos tira tempo, beleza, sono, tranquilidade e até a capacidade de perceber que está nos tirando tais coisas. Talvez por que tirando estas nos dá outras e as outras são tão importantes como estas. Será que não cabem todas no nosso “bolso” mental? Dá-nos, por exemplo, uma vida de entendimento mais complexo, de compreensão humana e valor existencial que nos torna mais e mais humano. Trocamos nossa aparência pela essência e isso é uma coisa boa. E isso Debbie percebe, junto com a família.


É tudo tão assustador como se você não tivesse a menor ideia de onde pisa e ainda assim tem que continuar a fazer o caminho.


E aí é que tudo se resolve. Por que no filme, como na vida, tudo, no fim, se resolve.
Um filme voltado ao entretenimento com garantia de riso e frases realmente hilárias, mas que nos convida (nós pessoas dos “enta”) a repensar o que importa e ser conceitualmente feliz. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

CHAMAS DA INTOLERÂNCIA

O filme de Alan Parker de 1988, Mississipi Burning, começa em chamas. E não são as chamas revolucionárias que acostumamos a ver nos filmes de ação, são as chamas da intolerância, religiosa, étnica e humana da realidade sulista estadunidense. “Colored” como eram chamados os negros nos tempo que lá ia Luther King reivindicando direitos e traduzindo ao mundo uma democracia que, afinal, era para poucos em um país que se orgulhava de ter levantado essa bandeira “in a first place”. Na trama dois agentes federais vão tentar elucidar o assassinato de três jovens, um deles negro e outro judeu, no Sul dos Estados Unidos por remanescentes da KKK (KU KLUX KLAN) na década de sessenta. As vítimas são jovens militantes vindos de um escritório dos Direitos Humanos. O FBI é convocado para conduzir as investigações na figura do agente vivido por Willem Dafoe, auxiliado por um agente local interpretado por Gene Hackman.



Bem se você que está lendo não quiser spoiler essa é sua hora de parar por que esse filme demanda muita informação interessante
“Acho que estão sendo usados. São mandados para cá com seus Volkswagens e tênis, para que lhes arrebentem os miolos”.
O filme de Alan Parker de 1988, Mississipi Burning, começa em chamas. E não são as chamas revolucionárias que acostumamos a ver nos filmes de ação, são as chamas da intolerância, religiosa, étnica e humana da realidade sulista estadunidense. “Colored” como eram chamados os negros nos tempo que lá ia Luther King reivindicando direitos e traduzindo ao mundo uma democracia que, afinal, era para poucos em um país que se orgulhava de ter levantado essa bandeira “in a first place”. Na trama dois agentes federais vão tentar elucidar o assassinato de três jovens, um deles negro e outro judeu, no Sul dos Estados Unidos por remanescentes da KKK (KU KLUX KLAN) na década de sessenta. As vítimas são jovens militantes vindos de um escritório dos Direitos Humanos. O FBI é convocado para conduzir as investigações na figura do agente vivido por Willem Dafoe, auxiliado por um agente local interpretado por Gene Hackman.
Bem se você que está lendo não quiser spoiler essa é sua hora de parar por que esse filme demanda muita informação interessante
“Acho que estão sendo usados. São mandados para cá com seus Volkswagens e tênis, para que lhes arrebentem os miolos”.
Ainda que o percurso seja previsível, assim como o final é histórico, no sentido de que já sabemos que foi desse jeito mesmo, vale a atuação dos protagonistas, a maestria da condução e, claro, vale aquela esperança de que entre todos os malvados existem criaturas boazinhas que mesmo não fazendo coisas boazinhas conseguem driblar o mal em nome do bem maior.
Só o início já nos diz o que vamos encontrar e como eu não o vi em 1988 quando foi lançado e eu tinha 13 anos, então não posso evitar de compará-lo com outros do gênero. Não tenho muito estômago para esses dramas étnico-raciais como “12 anos de escravidão” que nunca consegui terminar ou mesmo “Django Livre” que pulava umas partes. E “Mississipi em chamas” não foge à regra.




“De onde vem todo esse ódio?”
O roteiro é muito bem construído e nos convida a entrar na cabeça dos sulistas americanos através das falas e ações das pessoas que vivem na pequena cidade de Jessup, no Estado do Mississipi.
“Se você não é melhor que um negro, você é melhor do que quem?”
A verdade é que o cenário todo é de pobreza. As ruas são poeirentas,  os prédios tem pinturas desgastadas, as casas tem azulejos encardidos e descorados pelo tempo com quintais que aparecem como abandonados com lama e sinais de descuido. Tudo sugere uma “américa esquecida.  A desigualdade étinico-racial parece ser um modo de manter a desigualdade econômico-social e dessa forma preservar o tal do “american way”. Afinal, se você não puder ser melhor que um preto, você será melhor que quem?
“Nossos pretos estavam felizes até que vieram esses universitários para agitar. Antes ninguém reclamava”.
Fica claro que o que eles querem preservar não é exatamente o “american way”, mas o modo sulista de se situar na América. Seu modo de vida é a única coisa que têm e não vão abrir mão disso mesmo que para isso se transformem em assassinos. Fiquei me perguntando enquanto assistia como os moradores desse lugar se sentiram ao se verem retratados desse modo hostil para toda a comunidade internacional.
“Estamos aqui para proteger a democracia anglo-saxônica”
Toda a história se baseia em direitos civis. No caso, o direito ao direito ao voto. Os negros, os turcos, os orientais são todos colocados como um risco à essa democracia anglo-saxõnica, a esse direito de voto dessa comunidade anglo-saxônica a qual eles não fazem parte. Assim, como os índios que aparecem no início do filme nos dando uma visão de como são precárias as suas condições materiais. Os brancos do filme até admitem uma cultura negra, ainda que deva ficar longe da cultura branca, mas a dos índios nem existe! Então, esse filme é mais que mais um sobre brancos e negros, é sobre tudo que for diferente da cultura anglo-saxônica.
Na medida em que o filme avança e a violência cresce, uma guerra civil se vai formando. Tantos agentes são chamados e recrutas militares convocados para resolver o que deveria ser uma simples investigação de desaparecimento. Este é um dado que nos faz refletir sobre a profundidade das ações. Há sem dúvida um elemento econômico envolvido, colocado de forma sutil, mas que diz da falta de opção de muitas das personagens-classes arquetípicas da história.
“Você se forma e casa com o primeiro rapaz que faz você rir”
Os personagens vão nos aparecendo como parte de um mosaico que você só irá compreender faltando 30 minutos para o final do filme. Por que tanto a criança negra que vemos sendo surrada enquanto reza, como a mulher branca que lemos em seus olhos o medo do marido vão ser o ponto de virada para nossos heróis do FBI deixaram de lado as normas de buscarem justiça a qualquer preço.


O final é previsível, como já tínhamos anunciado. Os maus para a cadeia, os bons são libertados e a federação aparece para resolver problemas de uma parte de seu próprio povo que ainda não entendeu que eles também são a América em direitos e deveres. Eles adoram se exaltar mesmo quando deixam sair seus esqueletos do armário. É como se dissessem “Não somos como esses caipiras” ou “tem uma parte do país que ainda não chegou lá, mas estamos cuidando disso”. Mas nós sabemos que não é bem assim. Mas isso é cinema e nós gostamos de assistir. Então, vamos deixar de lado que os sulistas e os nazistas queriam a mesma coisa e que esses sulistas foram combater o nazismo, mesmo fazendo com os negros muito perto do que os nazistas fizeram com os judeus e vamos apreciar a obra de Alan Parker que, aliás, é ótima! 
Ainda que o percurso seja previsível, assim como o final é histórico, no sentido de que já sabemos que foi desse jeito mesmo, vale a atuação dos protagonistas, a maestria da condução e, claro, vale aquela esperança de que entre todos os malvados existem criaturas boazinhas que mesmo não fazendo coisas boazinhas conseguem driblar o mal em nome do bem maior.
Só o início já nos diz o que vamos encontrar e como eu não o vi em 1988 quando foi lançado e eu tinha 13 anos, então não posso evitar de compará-lo com outros do gênero. Não tenho muito estômago para esses dramas étnico-raciais como “12 anos de escravidão” que nunca consegui terminar ou mesmo “Django Livre” que pulava umas partes. E “Mississipi em chamas” não foge à regra.
“De onde vem todo esse ódio?”
O roteiro é muito bem construído e nos convida a entrar na cabeça dos sulistas americanos através das falas e ações das pessoas que vivem na pequena cidade de Jessup, no Estado do Mississipi.
“Se você não é melhor que um negro, você é melhor do que quem?”
A verdade é que o cenário todo é de pobreza. As ruas são poeirentas,  os prédios tem pinturas desgastadas, as casas tem azulejos encardidos e descorados pelo tempo com quintais que aparecem como abandonados com lama e sinais de descuido. Tudo sugere uma “américa esquecida.  A desigualdade étinico-racial parece ser um modo de manter a desigualdade econômico-social e dessa forma preservar o tal do “american way”. Afinal, se você não puder ser melhor que um preto, você será melhor que quem?
“Nossos pretos estavam felizes até que vieram esses universitários para agitar. Antes ninguém reclamava”.
Fica claro que o que eles querem preservar não é exatamente o “american way”, mas o modo sulista de se situar na América. Seu modo de vida é a única coisa que têm e não vão abrir mão disso mesmo que para isso se transformem em assassinos. Fiquei me perguntando enquanto assistia como os moradores desse lugar se sentiram ao se verem retratados desse modo hostil para toda a comunidade internacional.

“Estamos aqui para proteger a democracia anglo-saxônica”
Toda a história se baseia em direitos civis. No caso, o direito ao direito ao voto. Os negros, os turcos, os orientais são todos colocados como um risco à essa democracia anglo-saxõnica, a esse direito de voto dessa comunidade anglo-saxônica a qual eles não fazem parte. Assim, como os índios que aparecem no início do filme nos dando uma visão de como são precárias as suas condições materiais. Os brancos do filme até admitem uma cultura negra, ainda que deva ficar longe da cultura branca, mas a dos índios nem existe! Então, esse filme é mais que mais um sobre brancos e negros, é sobre tudo que for diferente da cultura anglo-saxônica.
Na medida em que o filme avança e a violência cresce, uma guerra civil se vai formando. Tantos agentes são chamados e recrutas militares convocados para resolver o que deveria ser uma simples investigação de desaparecimento. Este é um dado que nos faz refletir sobre a profundidade das ações. Há sem dúvida um elemento econômico envolvido, colocado de forma sutil, mas que diz da falta de opção de muitas das personagens-classes arquetípicas da história.
“Você se forma e casa com o primeiro rapaz que faz você rir”
Os personagens vão nos aparecendo como parte de um mosaico que você só irá compreender faltando 30 minutos para o final do filme. Por que tanto a criança negra que vemos sendo surrada enquanto reza, como a mulher branca que lemos em seus olhos o medo do marido vão ser o ponto de virada para nossos heróis do FBI deixaram de lado as normas de buscarem justiça a qualquer preço.
O final é previsível, como já tínhamos anunciado. Os maus para a cadeia, os bons são libertados e a federação aparece para resolver problemas de uma parte de seu próprio povo que ainda não entendeu que eles também são a América em direitos e deveres. Eles adoram se exaltar mesmo quando deixam sair seus esqueletos do armário. É como se dissessem “Não somos como esses caipiras” ou “tem uma parte do país que ainda não chegou lá, mas estamos cuidando disso”. Mas nós sabemos que não é bem assim. Mas isso é cinema e nós gostamos de assistir. Então, vamos deixar de lado que os sulistas e os nazistas queriam a mesma coisa e que esses sulistas foram combater o nazismo, mesmo fazendo com os negros muito perto do que os nazistas fizeram com os judeus e vamos apreciar a obra de Alan Parker que, aliás, é ótima!