terça-feira, 21 de julho de 2015

50 TONS DE CENSURA, [sobre o livro "50 tons de cinza"]

Quando se fala muito sobre um livro, ainda mais com um conteúdo picante como a série 50 tons, da escritora londrina E. L. James,  é preciso cautela na verbalização dos comentários; ofender a leitura talvez seja ofender o leitor e ninguém quer verdadeiramente isso, não é mesmo?. Mais do que “gosto” ou “não gosto”, além dos intermináveis “este livro é uma bossssta” e os inúmeros “amoooo!!!!” é preciso ter em vista que os motivos para a leitura de certo texto são múltiplos e variados e que minimizar isso a “gosto” e não gosto” é simplificar um ato cognitivo importante ao desenvolvimento geral do intelecto. Os comentários acima foram emitidos por algumas pessoas quando postei em uma rede que estava lendo o primeiro livro da série, 50 tons de cinza. Ok. É um best-seller. 
Com essa afirmação óbvia estou a dizer que ele é formatado para vender. E vender muito. Observem que há um padrão nesses livros (os homens são bonitos e poderosos, as mulheres são frágeis, mas decididas, eles são incompatíveis seja pela personalidade ou a vida que cada um leva e alguém é rico, podre de rico!) e você o lê tão rápido que nem sabe como foi aquilo, é como se não precisasse pensar sobre o que ler, como se fosse um filme. E não é que eles acabam se tornando filme? Curioso? Não. Se você procurar por cursos para escritores em universidades americanas e reparar bem no conteúdo ministrado vai ver que existe um fórmula e que  você bem poderia escrever um romance do mesmo jeitinho se tiver uma história para contar. Ah! Por que disso ninguém escapa: é preciso ter uma história antes de arrumá-la dentro de um modelo para best-sellers. Esse tipo de produção literária é voltado para o entretenimento e não par ao entendimento. Mas pode ser bem inspirador. Falando do livro em si, como em outros do gênero ele é suave demais para ser hot e descritivo demais para ser literatura. Então, não sei se ele poderia ser classificado como Literatura Hot, acho que é o nome seria Romance de Entretenimento. O texto é chapado, não há intertextos ou contextos; uma leitura pobre  de referências e que abusa das frases curtas. É irritante como a todo momento marcas de grifes famosas vão se apresentando de maneira invasiva e pouco literária. Quero dizer, a criatura não poderia apenas colocar um sapato com salto agulha, ele tinha que ser Louboutin? Se fosse para referenciar o quanto o protagonista era rico digo ser absolutamente desnecessário, outros dados mais relevantes já tinham sido dados como o fato dele ser capa da Forbes antes dos 30 anos de idade. O citado sapato custa em média $4.665,00 e está sempre associado à celebridades americanas. Na minha opinião, ela estava era cavando uma associação sexual e marqueteira com o tal sapato, já de olho na produção fílmica que viria. Isso não é arte, pessoas, isso é entretenimento.  O efeito textual de “seu xampu” é o mesmo de “seu xampu Chanel comprado em Paris”. Uma adjetivação ostensiva e desnecessária. Como ela pode ser tão descritiva com um xampu e tão pouco  com um plug anal? Se for para ser descritiva, então sejamos com as coisas pouco usuais. Posso apostar que todas as pessoas que leram o livro têm um xampu no seu banheiro, já um plug anal...bem penso que não todas. Não faz sentido então uma descrição em detrimento da outra. A não ser para ganhar pontos no terreno comercial. Uma das coisas que me chamou a atenção foi como ele inseriu Anastasia em sua vida. Primeiro o universo BSDM é muito cuidadoso em não permitir que “estranhos” entrem assim do nada. Uma situação de, no mínimo, verossimilhança, Ana teria que fazer parte desse mundo. Depois, o contrato nunca assinado e várias vezes violado, as incontroláveis “primeiras vezes” e o falso pudor da submissa que de submissa não tinha nada. Ora, um dominador é louco por controle; esse aliás é o motivo dele se tornar um dominador no universo sexual, para ter controle sobre algo. Nãos e deixaria levar por romantismos cafonas ou tentaria viver o melhor dos dois mundos. No máximo, ele tentaria ter duas relações diferentes se a namorada aceitasse uma submissa na vida dele, por exemplo. Passei o livro1 me debatendo sobre o perfil psicológico do personagem e então percebi, no segundo livro, que ele não era um dominador. Mas apenas um jovem com uma infância difícil e uma adolescência perturbada que teve a ventura de encontrar uma pedófila de carteirinha. Sim, por que pedofilia é uma perversão sexual, ainda que relações D-S sejam consideradas fetiches, sem ser fetichistas, essa sim uma perversão. É um universo confuso, mas que só foi possível acessar por que despertei para ele por meio dessa série um tanto quanto confusa com relação ao tema que propõe. Em mais de 20 anos de vida sexual ativa nunca tinha atinado para esse universo. Por isso, independente das incongruências contextuais, do texto superficial, ele tem o mérito de ser inspirador à outros modos de ser e de viver. E não deve ser essa uma característica do texto artístico? 

Não via a hora de assistir a essa história no telão! É diferente  do processo solitário da leitura; essas cenas para ver acompanhada, objetivando inspirar uma parceria num universo tão controverso, mas também tão inspirador. Carpe Diem! Viva o prazer. Toda forma de prazer vale a pena e toda forma de leitura também, mesmo que não seja literatura, mesmo que seja entretenimento puro, simples e prazeroso.

SOBRE A TRILOGIA SEVENWATERS, JULIET MARILIER


Na trilha de Sevenwaters, três narradoras - Sorcha, Liadan e Fainne - três mulheres, três histórias envolvidas em um só destino: a preservação do sagrado. 

Cada uma em seu momento histórico, com suas escolhas (que também consistia, às vezes, em não ter escolha!), foram no curso do tempo fortalecendo suas habilidades e seus espíritos através de gerações. No livro 2, por Niamh, filha de Sorcha, irmã de Liadan e mãe de Fainne, é possível vislumbrar a realidade feminina mais oprimida, mas ainda assim quase em toda a série são elas a comandar a Roda do Tempo. Sempre. Estranhamente, comandam o seu destino ao lado de homens que as deixam realizar suas escolhas sem grandes interferências, algo inusitado se pensarmos o suposto período histórico privilegiado pela autora. 

E essa é a grande falha da trilogia: esta suposição temporal. 

Para quem acostumou com o cuidado histórico de Marion Zimmer Bradley, senti uma certa ausência de contexto. O cenário não nos é dado historicamente, sujeito à imaginação do leitor, a trama poderia acontecer até na Ilha do Tesouro e não faria diferença. As guerras são entre os personagens, como se estivessem numa bolha em um tempo e lugar qualquer entre a Irlanda e a Inglaterra. É uma falha imensa em minha singela opinião. Afinal, quem busca Literatura de Época, quer saber sobre o período que está lendo. Então, ela ganha ares de Literatura Fantástica ao trazer esses mundos mágicos também sem muito contexto. Podemos inferir alguma coisa, no colocar entre 100 ou 200 anos depois do Cristo romano. Pelo cotidiano rude, a maneira como se vestem, a presença vulgar de padres e conventos ao lado de seres encantados e uso de magia, curandeiros e guerras religiosas podemos inferir algo, mas não é possível precisar. O que ocorria na Bretanha, Na irlanda e na Europa enquanto as três mulheres narravam suas histórias? Quais os efeitos dessas ocorrências no mundo mágico que as rodeava? Quão velha era a velha tradição da qual tanto falavam e lutavam para preservar? Difícil dizer pela ausência de um cuidado histórico, imprescindível à Literatura de Época. O que é uma lástima por que a história das mulheres ligadas a Sevenwaters é fascinante. Uma das coisas mais elementares como misturar eventos históricos com as narrativas das personagens trariam aquela possibilidade de percebermos as mulheres reais que me encanta neste tipo de literatura. Como Marion fez, Como Bram Stocker faz e até como Shakeaspeare fez. Pois sempre tivemos escritores que, buscando narrativas ambientadas em um tempo distante do seu, tentaram compreender as representações do mundo em seus processos historicamente construídos. Um bom entretenimento. Mas só! 
Acredito na dimensão educativa da literatura e nesse essa dimensão simplesmente não existe. Mas é uma boa história com um final até imprevisível e feliz. E quem me conhece sabe: eu adoro finais felizes! Então, tá valendo! ‪#‎eurecomendo‬